Quando leio reportagens referindo-se
a “como era bom o ensino de antigamente” ou “naquele tempo é que se aprendia”,
fico revoltado. Quem aqui escreve é um professor que foi aluno, justamente nas
décadas ditas como de ouro do aprendizado. Tenho 54 anos, e é só reportar-me
àquela época e lembrar alguns professores que marcaram positivamente ou
negativamente no meu caminho educacional. Para ser sincero, não divergem muito
dos de hoje. Mudou apenas as ferramentas utilizadas.
Não serei demagogo. Na época não era
considerado como aluno exemplar, de comportamento rebelde, próprio da
adolescência em qualquer época, não concordava na maioria das vezes com a
maneira de trabalho de muitos professores. Hoje sou professor de Biologia e Ciências,
mas certamente se dependesse do meu professor de biologia do ensino médio, eu seria
um ótimo “advogado”. Lembro-me da forma como ele “passava” a matéria. Mandava
(é mandava mesmo) os alunos sublinharem no livro as frases consideradas
importantes no capitulo estudado. No final exigia que nós respondêssemos o
questionário do final do capitulo. E para a prova, decoreba. Tem professores
que fazem isso hoje ainda.
Foi no período do regime militar.
Tínhamos matérias como OSPB e EMC, para quem não é da época, Organização Social
e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica. Verdadeiras “lavagens
cerebrais”, onde todo russo era terrorista e americano herói. Podes crer.
Assim como hoje, ontem existiam
professores que fizeram a diferença utilizando a tecnologia e os argumentos disponíveis
na época. Igualzinho a hoje.
Se hoje o aluno é mal educado,
afronta o professor, certamente é porque ele tem coragem de “encarar” sabendo
que - usando uma linguagem própria deles - “não dá nada”. Só para ilustrar como
era antes, vou relatar um caso ocorrido comigo: Tive um professor que possuía
dois apagadores, um no quadro e outro na mesa. Quando algum aluno não se
comportava ele atirava um deles. Certa vez estava conversando com meu colega da
frente, e de repente olhei e vi um apagador na minha direção. Como não sou bobo
de deixar a cara na frente do apagador, abaixei-me. O “projétil” acabou
atingindo a testa do colega que sentava atrás. Imediatamente fui “convidado a
me retirar da sala”. Para encurtar, fui encaminhado à direção e posteriormente
tive de me desculpar com o professor em questão por ter sido o culpado de sua
ação. Não me lembro de punição aplicada ao professor. E se fosse hoje? O que
aconteceria?
O que me levou a escrever este artigo
é a falsa idéia que alguns colegas querem deixar de que antigamente a educação
era melhor, de que o aluno era mais respeitador, etc. Naquela época os alunos
eram coagidos a não se manifestarem devido a sua efetiva punição. Imagine você
ter de ajoelhar-se em milho como castigo (na frente dos colegas). Alunos
realmente mal educados sempre existiram e não se iludam, vão existir sempre.
Assim como bons ou maus professores. O que realmente importa é que aqueles
alunos e professores que se destacam positivamente estão fadados ao sucesso,
independente da época em que vivem.
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