12 de set. de 2008

O "SER" PROFESSOR

Embora o título possa confundir o leitor, pela duplicidade de interpretação (ser: verbo ou nome?), certamente irá entender a razão da brincadeira até o final deste ensaio.
Tudo o que aqui escrevo está baseado na minha experiência como professor de ensino fundamental, médio e técnico.
Inicialmente começo falando um pouco sobre a nossa profissão. Logicamente que, se exerço esta função é porque a escolhi. Ninguém me obrigou. Acredito que para a grande maioria dos meus colegas, também foi uma opção. Digo o óbvio, que não é tão obvio assim, haja vista que alguns colegas demonstram total insatisfação no seu dia-a-dia como professor, dando a impressão de estarem ali por obrigação e não por opção.
Como em qualquer profissão, existem ótimos, bons e maus profissionais. Quando um meio de comunicação anuncia que um colega agrediu um aluno ou coisa do gênero, logo esta atitude degrada toda a classe do magistério, pois o anúncio é que um professor fez tal coisa e não o cidadão fulano de tal. Certamente estes são atos isolados que não devem ser ampliados para toda a classe trabalhadora. Embora eu quisesse falar apenas dos bons e ótimos profissionais, vejo-me obrigado a falar também dos maus. Como disse antes, existem em todas as profissões, por esta razão não vamos criar uma tempestade por isso.
Ser (o verbo) professor é antes de tudo lidar com pessoas. Muitas vezes estas pessoas não pensam como nós, então para obter sucesso no objetivo é preciso antes ter um conhecimento, mesmo superficial, de como pensam estas pessoas.
Ser professor é também dedicar-se não apenas durante as aulas na escola, mas também, algumas horas fora da escola. Vejo colegas que ao pisarem fora da escola querem esquecer que são professores. Não conheço nenhum profissional (engenheiro, médico, etc.) de sucesso que seja assim. A dedicação a que me refiro é pesquisando novos métodos, atualizando-se no seu assunto e em outros assuntos relacionados à sua área.
É fundamental hoje que o professor domine as tecnologias, que saiba usá-las. Tenho colegas que pararam no tempo, preferem dizer que computador, internet é coisa de preguiçoso. Não aceitam trabalhos digitados por serem cópias da internet. Quero alertar a estes colegas que do livro também se copia, mesmo escrevendo a mão. O que se deve fazer é não ignorar ou rejeitar as tecnologias deve-se sim, antes de tudo, usá-las da melhor maneira possível. Devemos conscientizar o nosso aluno sobre a maneira correta de usar toda a tecnologia disponível.
Existe aquele colega que deseja usar a tecnologia, mas mesmo não sabendo usar, pede que os alunos a utilizem e fica “maravilhado” quando, por exemplo, os alunos apresentam um trabalho em “slides” com texto pequeno, sem figuras e de cópia pura. Vou parar por aqui, pois este tema levaria a um novo e extenso ensaio.
Hoje o ser (nome) professor antes de tudo deve utilizar maneiras atraentes para que o aluno se interesse pelo estudo. Atualmente existem muito mais alternativas para que o aluno se interesse por outros assuntos do que antigamente. Existem até maneiras alternativas para que ele conclua seus estudos sem que freqüente regularmente a escola (supletivo, ead, etc.) Por isto, necessitamos urgentemente reciclar nossos métodos.
Com a crescente demanda de cursos a distância (ead), se não nos reciclarmos estaremos em extinção.
No entender deste professor, os alunos pedem por explicações, dicas e novidades sobre os mais variados assuntos dentro de cada uma das disciplinas. Se continuarmos a ensinar, somente, o que se ensina a 30 ou 40 anos (ou mais...) é lógico que o ensino deixará de ser atraente. Se continuarmos a ensinar nosso aluno sem objetivos, porque passar de ano nunca foi objetivo e sim conseqüência, ele buscará somente a nota para que passe ao ano seguinte. Se não explicarmos o porquê de aprender, seremos apenas meros depositantes temporários de conhecimento. Alguém pode me explicar quando usarei a fórmula de Báscara? Faz mais de 30 anos que aprendi, aliás sei de cor até hoje, e nunca a utilizei a não ser no colégio. Nem no vestibular caiu, e olha que fui aprovado em dois.
Já que falei em vestibular, quando ouço colegas dizendo que estão preparando os alunos para o vestibular, penso na decepção deles ao conferir que poucos alunos seguem para a universidade. Faça os cálculos de quantos alunos do ensino médio passaram por você e quantos estão hoje na universidade. Se realmente fosse eficiente o ensino regular para o vestibular, os cursinhos não estariam lotados.
Muitos colegas que não querem “cair” no erro de um ensino bancário acabam deixando o aluno abandonado no que diz respeito ao estudo. Pensam que o aluno deve “se virar”, buscar o que lhe interessa. Obviamente que não sou a favor de entregar tudo de “mão beijada”, mas é necessário indicar caminhos que o aluno necessita seguir. Acho extremamente decepcionante quando se é elogiado por que “explica a matéria”, esse não é um das nossas obrigações?
Às vezes teremos que fazer sim o papel da educação bancária, “depositando” o conhecimento em razão do aprendizado. Outras vezes teremos que deixar o nosso aluno errar para que aprenda com o erro. É muito importante que se faça um caminho intermediário entre os tipos de educação. Fica claro que não sou a favor de radicalismos. Por que não usar o que há de bom em cada um dos tipos?
Obviamente que não existe fórmula mágica para se lidar com os alunos. Falo aqui de uma maneira generalizada.
Existem os alunos que, por vários motivos, não se interessam pelo estudo. Mas estes são minoria. Devemos tentar resgatá-los, se não for possível, seguimos com os outros, pois a “ficha” tem que cair para que este aluno se interesse. Gosto muito de usar a analogia do rio: O ano do estudo é um rio que deve ser atravessado a nado. Uns atravessam nadando que é uma beleza, são os verdadeiros “xuxas” . Existem aqueles que atravessam o rio, mas com dificuldades, nadando no estilo “cachorrinho”. Há aqueles que estão se afogando, meu dever é jogar a corda com a bóia para que eles sigam com os outros, mas se eles optarem por não pegá-la, vou adiante. Não vou sacrificar um grupo inteiro por causa de um que não quer seguir.
Pode parecer rude a analogia, mas tenho que ser objetivo, afinal de contas sou evolucionista, os melhores adaptados permanecem. E não me entenda como melhor adaptado aquele individuo “perfeito” no que faz.
Existem muitos exemplos de bons professores com bons métodos, provavelmente você conhece ou conheceu algum quando era aluno. Este professor deixou a sua “marca” positiva, não é mesmo? Professores que te surpreenderam, saindo do “normal” em uma explicação. Não existem fórmulas mágicas, “para “ser” um ser” professor. Existem sim atitudes positivas.
Então colega, pense ao dar uma aula, em como você gostaria de ter esta aula como aluno. Pense não como professor, pense como aluno, lembre-se daquele professor que deixou a sua marca positiva. Não seja igual aquele que deixou a sua marca “negativa”. Não prepare seu aluno para o vestibular, prepare seu aluno para enfrentar os desafios que ele enfrentará (inclusive o vestibular), por que a decisão do futuro do aluno será do próprio aluno e não sua. Então contribua positivamente e não negativamente.
PS: Não se desespere se não conseguires acompanhar a evolução tecnológica, ninguém consegue, mas não fique completamente desatualizado, pois a informação corre à velocidade da luz. Se não podes vencer o teu “inimigo”, una-se a ele.

3 comentários:

Grazi disse...

Olá professor Samuel!!!
Achei muito interessante o seu ponto de vista, apesar de não exercer a profissão de "ser" professor, acredito que ainda há muito a aprendermos conosco. Admiro muito essa profissão e acho que ela é tão importante quanto qualquer médico ou advogado. Tratar de um paciente ou cliqnte em um consultório torna-se algom medíocre quando se comparado ao papel de um professor que é psicólogo, amigo, pae e educador para mais de 20 adolescentes e crianças.
Espero um dia poder presenciar uma revolução na educação brasileira e que cada vez mais os bons professores se motivem a perpetuar o conhecimento, não só nessa geração, mas nas que estão por vir!
Parabéns Samuel!

Anônimo disse...

Oi, Samuel!!!!!!!!!
O texto que escreveste é exatamente o que penso da nossa profissão!
Quem não gosta devia abandonar o barco...
Mas graças à Deus há muitos professores maravilhosos que encantam os alunos com a magia de suas aulas como você.
E espero que um dia os professores se deem conta que há conteúdos que são simplesmente inúteis na vida do aluno, como você explicou, e que não reprovem porque não sabem "isso ou aquilo" (Cecília Meireles)e que vejam o conhecimento como um todo... e não reprovem porque não conseguiu "média" em uma disciplina...se em todas as outras ele deu conta do recado.
Vamos continuar sonhando que um dia chegaremos lá...com aulas maravilhosas como na "Escola da Ponte"...
Um abraço
Colega Marlene

Anônimo disse...

Bem professor Samuel, li seu texto e achei muito interessante ele.
Se todos professores fossem um bom profissional não precisariamos reclamar da falta de investimentos do governo e etc.
Lembro mesmo que você disse em sala de aula: o número não justifica a conversa.
Depende do aluno e professor cooperarem e teremos uma maravilha de aula. precisamos de mais professores que deixem a marca positiva nos alunos.
Nossa sociedade necessita disto.