Existe hoje em dia uma grande preocupação com o alto índice de reprovação nas escolas públicas e nas escolas privadas. As públicas apresentam mais “propaganda”, pois historicamente á qualidade do ensino público é menor do que a qualidade do ensino privado. Apenas historicamente, porque, infelizmente, acreditam alguns que aquilo que é pago é melhor do que o gratuito. A única diferença é que sendo pago, os pais ou responsáveis irão exigir resultados positivos pressionando os filhos (alunos) ou os professores ou até ambos.
Muitos dos professores da rede privada também lecionam na rede pública. Não acredito que a mesma pessoa, sendo um profissional competente, irá se empenhar mais na rede privada e menos na rede publica.
Tenho colegas que se encontram nesta situação e desenvolvem excelente trabalho em ambas as repartições. O que pode ocorrer em decorrência da ausência de “cobrança” na escola pública é aquele professor, não tão competente, relaxar no seu método de ensino.
Obviamente que o fato de alguns professores atuarem na rede privada de ensino básico ou de ensino superior não os qualifica automaticamente como mais aptos. Eu particularmente tive professores na rede privada com péssima didática, com métodos típicos da educação bancária, embora apresentassem qualificações de pós-graduação.
Outra certeza é a de que o conhecimento adquirido por um profissional, altamente inteligente, que mostra um domínio do assunto, não significa que ele conseguirá transmitir ou fazer com que o aluno busque a melhor resposta. Em outras palavras, não é todo o professor que consegue transmitir com eficiência e didática o seu conhecimento.
Acredito, também, que numa escola que dá as condições técnicas com um bom laboratório (ciências, informática), equipamento em quantidade suficiente (videocassete, DVD, TVs, etc.) é de certa forma mais fácil lecionar com ou sem pós-graduação. Mas também não é garantia de que o ensino será de qualidade, pois são necessários profissionais capacitados para lidar com os equipamentos, e/ou professores que os utilizem.
Quando associei o alto índice de reprovação à qualidade de ensino, o fiz por achar que este item está intimamente ligado ao medidor da qualidade. Quando vejo reportagens indicando que alunos não conseguem se quer interpretar as questões propostas, quanto mais resolvê-las fico pensando onde é que está a raiz do problema. Os professores dizem que o aluno não se interessa em aprender, os alunos falam em aulas sem graça, os pais em professores desqualificados. Um passa a batata quente para o outro. Como sou pai, professor e fui aluno, sinto-me em condições de avaliar a situação por todos os lados e concluo: O problema maior não esta da qualidade do ensino, mas sim no conflito entre o que o professor, a escola, os pais e os alunos desejam efetivamente do ensino.
Os professores querem formar alunos especialistas em suas áreas de domínio (biologia, matemática, história...). Os pais querem que seus filhos sejam profissionais bem sucedidos, sendo o que, em muitos casos, eles não foram. Os alunos querem o quanto antes se “livrarem” da escola, pois a grande maioria está ali por obrigação direta [1] ou indireta[2]. A escola deseja formar cidadãos críticos para enfrentar as dificuldades da vida.
Embora pareça simples, a solução para o problema e muito complexa.
Analisemos o que ocorre numa escola particular, paga e bem paga, diga-se de passagem. Normalmente quem estuda neste educandário já vem de uma família bem sucedida em termos econômicos. Quem está no ensino médio tem a obrigação moral de seguir uma carreira bem sucedida seja ela de médico, advogado, ou outra qualquer. Este é o objetivo dos pais e do próprio aluno. O que a escola faz e adaptar-se a este objetivo principal[3]. É sabido que um aluno da educação particular está mais preparado para enfrentar um vestibular do que um aluno do ensino público. Isto ocorre porque este é um objetivo declarado da escola particular, porque é o que desejam pais e alunos. Existe aí uma sintonia de objetivos. O aluno do ensino público em sua maioria só quer se formar no ensino médio para conseguir um emprego um pouco melhor ou para se livrar da pressão dos pais. Alguns certamente irão conseguir com sucesso sua aprovação para o ensino superior. Mas a grande maioria não.
Mas o que é um ensino de qualidade? O que é qualidade?
Antes de seguir adiante é necessário que o conceito de qualidade fique claro.
Segundo o dicionário “Aurélio” qualidade é: “propriedade, atributo ou condição das coisas ou pessoas que as distingue das outras e lhes determina a natureza”.
E o ensino de qualidade o que é? É aquele que aprova mais? Não. Até onde eu saiba, o índice de aprovação continua maior do que o de reprovação.
Seria então aquele que possui maior número de alunos com aprovação no vestibular? Também não.
Na realidade, ensino de qualidade é aquele que cumpre os objetivos propostos pela instituição em seu módulo pedagógico. Isto é o que a distinguirá das outras. A minha solução parece bem simples. Cada educandário deve optar por objetivos claros e detalhados e principalmente simples, o aluno (ou os pais) deverá optar então, por aquela instituição que se aproxima dos seus objetivos.
Este negócio de fixar objetivos generalizados e “nobres” como formar um cidadão critico, sociabilizado, preparando-o para a vida, são apenas palavras bonitas, cujo alcance é muito grande e é de formação constante desde o nascimento até a morte. Como posso fixar um objetivo de que nunca chegarei plenamente?
Quando trabalho com meus alunos, aconselho-os a fixarem, inicialmente, objetivos de forma ampla, porém alcançáveis, depois objetivos intermediários para que sejam alcançados os grandes objetivos. Um exemplo é o objetivo de passar de ano. Fixo como primeiro objetivo o mínimo para passar o trimestre, depois o segundo e finalmente o terceiro, atingindo o objetivo maior que é o “passar de ano”.
Portanto escolas sejam mais claras e simples em seus objetivos, fixem objetivos alcançáveis (vale para você também colega) que a “qualidade” do ensino será muito maior.
[1] Por pressão dos pais, familiares, etc.
[2] Para conseguir um emprego melhor, não ficar para trás.
[3] Pode até existir outros mais nobres, mais este é o que impera.
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