Quando leio reportagens referindo-se a “como era bom o ensino de antigamente” ou “naquele tempo é que se aprendia”, fico revoltado. Quem aqui escreve é um professor que foi aluno, justamente nas décadas ditas como de ouro do aprendizado. Tenho 50 anos, e é só reportar-me àquela época e lembrar de alguns professores que marcaram positivamente ou negativamente no meu caminho educacional. Para ser sincero, não divergem muito dos de hoje. Mudou apenas as ferramentas utilizadas.
Não serei demagogo. Na época não era considerado como aluno exemplar, de comportamento rebelde, próprio da adolescência em qualquer época, não concordava na maioria das vezes com a maneira de trabalho de muitos professores. Hoje sou professor de Biologia e Ciências, mas certamente se dependesse do meu professor de biologia do ensino médio, eu seria um ótimo “advogado”. Lembro da forma como ele “passava” a matéria. Mandava (é mandava mesmo) os alunos sublinharem no livro as frases consideradas importantes no capitulo estudado. No final exigia que nós respondêssemos o questionário do final do capitulo. E para a prova, decoreba. Tem professores que fazem isso hoje ainda.
Foi no período do regime militar. Tínhamos matérias como OSPB e EMC, para quem não é da época, Organização Social e Política Brasileira e Educação Moral e Cívica. Verdadeiras “lavagens cerebrais”, onde todo russo era terrorista e americano herói. Podes crer.
Assim como hoje, ontem existiam professores que fizeram a diferença utilizando a tecnologia e os argumentos disponíveis na época. Igualzinho a hoje.
Se hoje o aluno é mal educado, afronta o professor, certamente é porque ele tem coragem de “encarar” sabendo que - usando uma linguagem própria deles - “não dá nada”. Só para ilustrar como era antes, vou relatar um caso ocorrido comigo: Tive um professor que possuía dois apagadores, um no quadro e outro na mesa. Quando algum aluno não se comportava ele atirava um deles. Certa vez estava conversando com meu colega da frente, e de repente olhei e vi um apagador na minha direção. Como não sou bobo de deixar a cara na frente do apagador, abaixei-me. O “projétil” acabou atingindo a testa do colega que sentava atrás. Imediatamente fui “convidado a me retirar da sala. Para encurtar, fui encaminhado à direção e posteriormente tive de me desculpar com o professor em questão por ter sido o culpado de sua ação. Não me lembro de punição aplicada ao professor. E se fosse hoje? O que aconteceria?
O que me levou a escrever este artigo é a falsa idéia que alguns colegas querem deixar de que antigamente a educação era melhor, de que o aluno era mais respeitador, etc. Naquela época os alunos eram coagidos a não se manifestarem devido a sua efetiva punição. Imagine você ter de ajoelhar-se em milho como castigo (na frente dos colegas). Alunos realmente mal educados sempre existiram e não se iludam, vão existir sempre. Assim como bons ou maus professores. O que realmente importa é que aqueles alunos e professores que se destacam positivamente estão fadados ao sucesso, independente da época em que vivem.
3 comentários:
Oi,
Muito bom esse seu relato, como teacher a minha realidade e diferente so na quantidade de alunos, em cursinhos tambem existem os bons e os rebeldes, e creio que sempre vai existir...
Parabens pelo blog,
Bibi
Olá: Tb não fui uma aluna nota 10.Mas era hiper esforçada.
Só para teres uma idéia. Conlcui o antino ginásio em 1968 em plena ditadura militar. Para entrar no ginásio se prestava um exame de admissão super concorrido. A média do ginásio era 80, depois 75. E a gente conseguia.Não tinha multa colher de chá. As provas eram copiadas em papel almaço, com margem e não podia faltar o cabeçalho. Tinha até prova oral. Os professores não tinham a preocupação se entenderam ou não o conteúdo.Era tudo ditado....e cm se escrevia....Trabalho em grupo eram raros. Tenho mais coisa para relatar mas fica para outra ocasião.Um abraço
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